sábado, novembro 29, 2003

flor de obsessão As minhas desculpas pela falta de 'posts'. Apeteceu-me francamente espairecer uns dias sem pensar muito nisto. O mais terrível de um blogue é a sua perpétua desactualização. O dia de ontem é lixo. O importante é o que ainda não escrevemos, o que está para aparecer. O nosso inimigo mais fundo é o tempo, tempo que nunca termina, que faz dos 'posts' antigos relíquias mais obsoletas do que uma página do jornal de véspera. É bom parar de vez em quando para percebermos que nada deve ser assim tão urgente, tão veloz, tão inacessível. Bom fim-de-semana. Bom-feriado.

sexta-feira, novembro 28, 2003

aDeus
Onde é que eu acabo e começa a caneta?
Onde é que a caneta acaba e começa a folha?
Onde é que a folha acaba e a mesa começa?
Onde é que a mesa acaba e a sala começa?
Onde é que a sala acaba e a rua começa?
Onde é que rua acaba e a cidade começa?
Onde é que a cidade acaba e a estrada começa?
Onde é que a estrada acaba e a (outra) cidade começa?
Onde é que a essa cidade acaba e a rua começa?
Onde é que a rua acaba e a sala começa?
Onde é que sala acaba e a mesa começa?
Onde é que a folha acaba e esta folha começa?
Onde é que esta folha acaba e onde é que tu começas?
Do Lado de Lá 'Os jovens de hoje são frequentemente autoritários. O mundo tem de girar em torno das suas verdades e necessidades. Por estarem abarrotados de informações, acham que entendem de tudo. Raramente uma pessoa mais velha consegue mudar as rotas do que pensam e sentem. Porquê? Porque não aprenderam a duvidar de si mesmos, a questionar as suas opiniões e a colocarem-se no lugar dos outros.'
[Augusto Jorge Cury, O Mestre do Amor]

quinta-feira, novembro 27, 2003

epiderme Aparentemente, só não se conhece o que ainda não foi inventado. Já fomos todos à Índia, ao Japão e já todos atravessámos os Estados Unidos pela 66 num Cadillac de pneus carecas. Porque já vimos os postais, os documentários, os filmes e até fizemos um grande esforço para descolar o olhar das imagens e ler uns quantos livros. É a desvalorização total da experiência. Entretanto, acreditamos viajar pelo mundo num ecrã, enquanto nos sentamos confortavelmente com um refresco na mão. Tudo nos parece familiar e próximo, como se o mundo fosse mais um adereço que se arruma todos os dias ao lado dos chinelos.
Grande Superfí­cie A estranha sensação de estar só na blog-esfera. Inexperiente e incauto, coloquei nos comments vazios o dístico: ninguém. Olho para o blog e leio: ninguém, ninguém, ninguém... Não poderia ter arranjado melhor maneira de lembrar a mim mesmo que estou só.
Ruminaçœs Digitais A ignorância não produz felicidade. A ignorância limita, dilui diferenças, reduz opções, aproxima sentimentos. Da apatia à violência, do prazer à inveja, do desejo à satisfação do desejo. O conhecimento também não produz felicidade. Traça fronteiras e expande-as, intensifica tudo (o bom e o mau), permite a escolha dos caminhos possíveis e exige a responsabilidade dessa escolha. Ao limitar os desejos limita-nos, mas não limita os outros.

sLx
(o vento lá fora) A verdade, meus amigos!, (ler com o estimável sotaque do professor Hermano Saraiva) é que os metablogues são característicos das blogosferas de segunda geração, por assim dizer. Além de nos fornecerem material de reflexão séria (nunca é escusado mencionar a importância do Metablogue) proporcionam uma alternativa credível e válida ao actual sistema de follow the white rabbit com que funciona a blogosfera lusa.
Deixem de ver no metabloguismo apenas o fulanismo (sim, fiz evoluir o conceito de umbigo...). Eu vejo no metabloguismo a oportunidade de ler blogs que outros acharam fundamentais, interessantes, dignos de registo.
Metablogar não é (apenas) falar sobre blogs, é relevar os melhores conteúdos dos melhores blogs. Pelo menos é essa a meta :->
Chá de Menta Semelhantemente ao universo real, confesso que sinto uma insegurança virtual: terá algum valor as coisas que digo e partilho neste meio? A insegurança fica em segundo plano diante da satisfação que viver este blog proporciona.

terça-feira, novembro 25, 2003

Estranho Amor O Amor é lógico

Um leão com azia, uma cegonha orfã, um cão sem dono, uma hiena melancólica, um elefante constipado, um pirilampo fundido, um leopardo coxo, um rouxinol rouco, uma andorinha sem ninho, uma víbora antidotosa e eu sem ti.

Existem coisas que fazem todo o sentido.
Ponto & Vírgula Descubro, no Aviz, uma denonimação curiosa para as surpresas que interrompem a paisagem da blogosfera – relâmpagos, chama-lhes o Francisco.
Classe Média Confusões
Dizer pensinho higiénico (por oposição a penso higiénico) não diminui o tempo em que podemos ser ouvidos a falar da higiene íntima da mulher. Prolonga-o.
A Natureza do Mal Darwin, ainda jovem, logo após o regresso do Beagle, anota este parágrafo no seu caderno de apontamentos:

“Platão diz no Fédon que as nossas ideias imaginárias têm origem na preexistência da alma e não provêm da experiência. Ler «macacos» em vez de «preexistência da alma»'.

À ideia platónica do reino eterno de essências perfeitas bate-se assim, com este tom de desafio, quase provocação. Como será uma vida assim? A coleccionar evidências para, dia sim dia não, com graça, derrotar o mundo que os Homens inventaram. Deve ter sido puro prazer.

(Sofia)

segunda-feira, novembro 24, 2003

Aviz Ora, apesar do «efeito pernicioso» dos «blogs mais mediáticos», reconheço que muitos textos que me comoveram, que chamaram a minha atenção por motivos sérios ou risíveis, vêm de blogs anónimos (ou, pelo menos, de pessoas que não conheço). São, como escrevi antes, relâmpagos que iluminam a paisagem. A paisagem, nós sabemos como é: tem os seus declives, os seus rios, as suas montanhas — mas os relâmpagos não são previsíveis como a paisagem. De vez em quando descubro um blog que tem aquela frase, ou que vê aquele pormenor. Como isto não é uma batalha letal, não digo que eles estão certos — digo só que me juntei a eles, que os juntei nas minhas leituras, que me comoveram de alguma maneira.

sexta-feira, novembro 21, 2003

Sublinhar Diário

Em 1876, Fiódor Dostoiesvky começa a publicação de uma folha mensal que pretendia que fosse 'um diário íntimo, em toda a acepção da palavra, isto é, um fiel relato do que mais me interessou pessoalmente.'
Ou seja, algo muito parecido com um blog.

Mas três meses depois ele escreve:
'Custa a crer, mas é verdade, ainda não encontrei a forma do Diário, e não sei se algum dia encontrarei... Assim, tenho 10 ou 15 assuntos (pelo menos) para tratar, quando me sento para escrever. Todavia, os meus assuntos preferidos, afasto-os involuntariamente. Ocupar-me-iam demasiado espaço, exigiriam demasiao ardor da minha parte... e, deste modo, não escrevo o que me agrada. Por outro lado, imaginei com demasiada ingenuidade que se trataria de um autêntico 'Diário'. Um verdadeiro 'Diário' é impossível; só se pode fazer um diário artificialmente preparado para o público...'

Eu, ao escrever aqui, sinto muitas vezes essa mesma artificialidade... essa mesma impossibilidade de escrever tudo...
e espero, ingenuamente, que os silêncios possam dizer o que calo... mas isso, sei-o bem, é um desejo condenado ao fracasso.

Em Busca da Límpida Medida

Em Busca da Limpida Medida O outro lado da lua - é sabido - nunca se revela, por isso seria, desde logo, tarefa difícil tentar compreendê-lo e, bem assim, intuí-lo. No entanto, o ciberespaço e os blogs, pela sua natureza confessional, convocam uma tendência intuitiva muito forte. Dou por mim a assumir os sentimentos daqueles que estão por trás das palavras e das imagens de certos blogs, embora tal intuição não resista, de modo nenhum, a uma análise fria do real conhecimento que tenho dessas pessoas. Mas, por outro lado, falo de intuições e estas operam justamente nos limites da razão, muito para além dela.

quarta-feira, novembro 19, 2003

Guerra e Pas

Guerra e Pas Esta ocorrência que felizmente parece estar bem resolvida - um jornalista raptado e uma ferida - mostra como os jornalistas enfrentam o paradoxos dos paradoxos - terem de falar de si mesmos e das suas praxis.
A sobriedade foi o véu que cobriu a paralisia e todos ficaram lindamente na fotografia, porque, não tenhamos dúvidas, se fosse uma oficial da GNR a apanhar um tiro, já conheceríamos a sua aldeia, a sua família, os seus colegas, os seus amores, os seus passatempos, o presidente do seu clube teria aparecido com uma camisola e o Governo teria sido trucidado por não ter previsto que havia bandidos armados, intrometidos na guerra.

sexta-feira, novembro 14, 2003

Aviz NOITE. A Ana Gomes Ferreira enviou-me um poema, publicado na antologia Um Poeta Faz-se ao 10 anos (Assírio & Alvim, 1973), onde um miúdo dessa idade, Nuno, escreve um poema sobre a noite. Há uma passagem assim:

«Existe ainda outra forma/ de classificar a noite,/ diz-se que é a plataforma/ da vinda áspera do coiote.»
ABRUPTO Eu tenho um lado, mas ninguém me ouvirá dizer que este é o lado de Deus, como na canção de Bob Dylan. Mas ouvir-me-ão dizer que este é um lado dos homens, do modo de vida que escolhi (escolhemos), de uma precária mas identificada civilização (a palavra é adequada) que já mostrou o que vale e que não vive do terror, nem da violência, mas da procura da conciliação de interesses e modos de vida. Nenhuma outra civilização me dá as liberdades e a possibilidade de felicidade que esta me dá, a mim e, potencialmente, a todos os homens. Não estou certo de tudo, mas das duas frases anteriores estou inteiramente convicto.

quarta-feira, novembro 12, 2003

|Murmúrios do Silêncio| Há uma fúria devoradora no dizer. Na obsessão de comunicar. Na busca incessante da palavra e do verbo. Do choque e do encantamento. Do propósito e do enunciado. Da verdade maior de nos reencontrarmos na perfeição das letras, para lá da deformação dos objectos. Quando somos o abismo da ideia: pensamos, escrevemos, escrevemos, pensamos. No géiser de todo o processo criativo. Nos instantes que se sucedem. Em todos, o encontro da essência.

terça-feira, novembro 11, 2003

ABRUPTO Hoje é feriado belga e todos os noticiários desta parte da Europa abrem com as comemorações do Armistício que terminou com a guerra de 1914-18. Compreende-se porquê: com o seu cortejo de milhões de mortos, a guerra cavou fundo na memória em França, na Alemanha, na Bélgica. Os campos de mortos estão sempre à distância de poucos quilómetros.

Nos noticiários portugueses, nada, embora Portugal tenha participado na guerra e também tenha cá mortos. Se o esquecimento fosse só com a guerra de 1914-18, vá que não vá. Agora, o que mais me intriga é a nossa capacidade de amnésia colectiva em relação a quase tudo. Dos últimos duzentos anos nada sobra, a não ser um 5 de Outubro, penosamente recordado à força, e um 25 de Abril que, como tem vivas as suas gerações, ainda é lembrado.

Bom dia , memória!
flor de obsessão A imprensa caseira, especialista no tema, tem elogiado a jornalista espanhola que se tornou noiva de Filipe de Espanha. A menina parece ter garra. Até mandou calar o príncipe. Tudo isto me parece sumamente irrelevante. Eu não quero saber se a futura princesa é dada à garridice ou à doçura. Dispenso pormenores sobre a boda. Passo os discursos públicos. Quero saber duas, três coisas realmente importantes. Quero saber quem vai bater em quem? Quem é a vítima? Quero saber quem ama menos? Sobretudo isto: quem ama menos? Em todo o conúbio amoroso há alguém que ama menos. O embeiçamento nunca é igual para quem se cruza. Os amantes são um contínuo desequilíbrio. O marxismo não chegou ao amor.

domingo, novembro 09, 2003

A Natureza do Mal Leonardo

(...)

Hoje convivemos com a sensação de que as grandes vitórias da ciência já aconteceram, de que os passos que damos são curtos, ao pormenor, e que é de um esforço conjunto de disciplinas que surge o progresso. É verdade, foi sempre verdade, não constam da História homens a inventar sozinhos questões para a humanidade. Mas é encantador pensar que às vezes, sem querer, um de nós vê mais longe e com espanto, empurra o mundo contra o tempo.
Modus Vivendi Pergunta ao oráculo

Se o vento sopra em rajada, se a chuva bate com estrondo na vidraça, por que razão o sol brilha dentro da chávena de chá?
Outro, eu A razão porque não expresso aqui, mais frequentemente, algumas das minhas opiniões deve-se ao facto de, eu próprio, nem sempre concordar inteiramente com elas.
Azul cobalto. O voo nocturno e o coração por bússola.

sábado, novembro 08, 2003

oblogalternativo Vi esta no Overdose City: 'Quando a gente pensa que sabe todas as respostas, vem a vida e muda as perguntas...' Gostei...
little black spot um dos motivos porque me fascina a ficção científica é a capacidade de provocar o espanto - em inglês o belíssimo 'awe'. este espanto deriva da introdução inesperada de pequenos momentos de reflexão existencial, em que os personagens ficcionados se tornam veículos de expressão de pequenas verdades substanciais sobre a natureza humana no Cosmos. hoje aconteceu-me muito simplesmente com o Babylon 5:

«só uma raça que possui um tempo de vida breve pode sentir a ilusão de que o amor é eterno.»

para isto não tenho palavras, nem é preciso.

quinta-feira, novembro 06, 2003

Retorica e Persuasao «(...) julgo que uma coisa é evidente: depois de conhecermos as pessoas, a agressividade atenua-se. Mesmo quando não gostamos das ideias ou da pinta de alguém (em pessoa), sempre temos a noção de que do outro lado não está apenas um p.c., de que as palavras voam e ferem, e isso torna-nos um bocadinho mais humanos.»- Pedro Mexia

Subcrevo inteiramente. Excelente ideia. A reter nesta nossa aventura virtual.
Formato 1
Lá fora na noite há forças esmagadoras que atiram planetas gigantescos uns contra os outros, entrechocam-se em explosões ciclópicas, matéria incandescente e fogo, eu olho para o silêncio e quando apago a luz sinto que perdi um instante.
100nada (pt) The solitude of self

Foi este comentário obscuro que o Mário fez a um post meu. Obscuro até ter lido o Retorta: Nos momentos de maior tristeza e desânimo estamos sós.
Azul cobalto. As flores encerram em si uma inevitabilidade: o efémero. Desenhá-las, pintá-las ou fotografá-las encerra em si uma determinação: a preservação. Há, por conseguinte, uma dualidade perversa na imagem gráfica de uma flor: a do efémero preservado.

quarta-feira, novembro 05, 2003

Exacto Dizia Bagão Félix, num programa da Bárbara Guimarães (além de bonita o programa dá-lhe um ar inteligente), que era Benfiquista pois precisava por vezes de ser incoerente. Magnífico; não pelo clube mas pela paixão. São homens como este que fazem crescer os sonhos.
A exigência de uma sociedade formal obriga-nos a ter momentos de incoerência, e isto será tão mais verdade quanto mais racional se for. A procura do absurdo aplica-se a todas as artes, mas aquela em que é mais perfeita reside na amizade. Relações despojadas do mais pequeno interesse mesquinho, o nosso, e onde não há desiguais. Connosco ou contra nós. E o tempo ditará que na memória fiquem primeiro estes momentos.
E é só isto Mestre Aviz; o resto, amanhã já esqueceu!

Ou, como diria o JPP, a memória não tem para mim quinze dias, nem quatro Expressos, nem dois meses de TSF.
Almocreve das Petas [Das Memorias - que diga-se, seria talvez a escrita mais memorialista, perturbante e intimista de toda a blogosfera, se tal fosse possível ...]

'Hoje acordei com este grito: eu não soube fazer uso da vida! O que me pesa é a inutilidade da vida. Agarro-me a um sonho; desfaz-se-me nas mãos; agarro-me a uma mentira e sempre a mesma voz me repete: - É inútil! Inútil! (...)
A vida antiga tinha raízes, talvez a vida futura as venha a ter. A nossa época é horrível porque já não cremos - e não cremos ainda. O passado desapareceu, de futuro nem alicerces existem. E aqui estamos nós sem tecto, entre ruínas, à espera ...' [Set. 1910]

- Raul Germano Brandão
do lado de cá Nos dias importantes, está sempre vento, estamos sempre sisudos, o carro anda sozinho porque nem olhamos para o que estamos a fazer, a música na rádio é sempre a errada.
Os dias importantes são, muitas vezes, os piores. Mesmo que sejam bons. Não sabemos o que dizer, não ouvimos o que nos dizem, nem queremos saber. Só pensamos no importante do dia. Prendemos o olhar no vazio, suspiramos a torto e a direito, roemos as unhas e os dedos, os nossos e os dos outros. Não interessa se depois os vamos guardar, se nos marcam, se nos mudam, se nos deixam tristes ou nos levam ao céu. São dias em que praticamente não existimos.
Amanhã é um dia importante.
Vermelhar todos já o sentimos na pele, e ninguém sabe explicar.
o quarto do pulha Insondável mistério o que leva a que emigrantes - alguns deslocados milhares de quilómetros, dos pardieiros onde nasceram - considerem Portugal um autêntico paraíso.
Insondável mistério ou tónico recomendado a deprimidos crónicos...
ABRUPTO Tenho estado a ver (em DVD) uma magnífica história da guerra civil americana realizada por Ken Burns, feita apenas por palavras da época, lidas sobre fotografias ou paisagens. Palavras de gente célebre e de homens comuns. O efeito é poderoso. As coisas fabulosas que homens como Lincoln, disseram, com uma mistura de verdade íntima, de afirmação moral e um leve toque de retórica , ou apenas de pensar bem e falar melhor.

terça-feira, novembro 04, 2003

Nao Esperem Nada De Mim Ben Harper valeu a pena. Eu não conhecia mais do que umas canções. E, de repente, deparo-me com um músico versátil, grato e afectuoso, dotado de uma voz e de uma capacidade de interpretação notável, acompanhado de músicos esforçados e idiossincráticos. Três horas inteiras de concerto - e, se lhe pedíssemos mais, mais ele nos daria, tal o seu encanto por aquele pavilhão com 20 mil pessoas rendidas. Foi clara essa gratidão, tal como foi clara a necessidade sentida por Ben Harper de compensá-la: cinco canções à viola, numa longa meia hora que não estava no programa, uma cantada de frente, quatro repartidas pelos dois cantos do palco, mais próximos dos espectadores oblíquos. Foram mil ritmos diferentes e mil melodias de origens distintas, numa espectáculo de sobriedade e eficácia como vi poucas vezes.
Prazer_Inculto TEMPUS FUGIT

'Já acabei de ler o Harry Potter', diz-me.
'As 700 páginas?!', admiro-me.
'Sim'.
'Em 5 dias?'
'Sim'.

Meu Deus: mudei as fraldas a um monstro!
Crítico Acho notável a chamada para o real que este blog [o quarto do pulha] faz, é um blog que não vive no faz de conta, da polidela e da engraxadela mútua. Um blog em que os bois são chamados pelos nomes e onde são pegados pelos cornos. Onde as imagens puxam para o belo e trágico mundo em que vivemos. Belo mas triste, e alegre me fiz triste ao lê-los.
Ainda bem que existem, para além do bem e do mal.
Monólogo há episódios da vida que se tornam decisivos porque marcam o que somos e orientam indelevelmente o nosso rumo.
o nascimento dos meus filhos foi o mais marcante desses episódios. depois, nada voltou a ser igual.
Blogue dos Marretas QUERO MAIS NOMES!
Só agora reparo: no DNa de Sábado, Pedro Rolo Duarte não revela mais nenhuma identidade secreta do Pipi. Anda um gajo a criar falsas expectativas de conhecer um Pipi novo todas as semanas para isto.
STATLER

segunda-feira, novembro 03, 2003

ContraFactos & Argumentos O Gato Fedorento escreve: 'Ouço a Provedora da Casa Pia dizer que, neste caso da pedofilia, “somos todos [portugueses] responsáveis”.
A léria do “somos todos responsáveis” é só uma variação do tipicamente português “ninguém tem a culpa”.
(...)
a generalização da responsabilidade só serve para desresponsabilizar os culpados.
Sublinhar Momento Zen

Uma das minhas maiores satisfações é cumprir os prazos de qualquer actividade a que me dedique. E hoje acabei um trabalho que deveria estar pronto amanhã. Estou feliz.
No Arame A voar pela primeira vez para as Américas, o que me surpreende primeiro é a vasta extensão gelada do Canadá. Nesta rota loxodrómica que me leva de Lisboa a Nova Iorque foge-se primeiro para Norte para só então chegar ao Leste – afinal, nem sempre o percurso mais curto entre dois pontos é uma linha recta.

Sob as asas, engolindo milhas e horas numa corrida pela paragem do tempo, desfila a tundra castanha, branca, pontuada aqui e ali por lagos que vistos daqui parecem charcos mais ou menos extensos.

Depois, é o esperar e esperar pela autorização de aterrar. Abaixo de mim, acima de mim, circulam aviões, em espirais que nunca cessam. Vêem-se-lhes as luzes, que piscam e piscam. Adivinho as faces descontraídas dos pilotos no cockpit, pressinto as mãos tensas dos controladores de aproximação do JFK no desencadear de um xadrez aéreo que não admite erros nem hesitações.

Depois, aterra-se. Passa-se pela linha amarela do Immigration Service e espera-se pelo voo de ligação para Houston, com escala em Saint-Louis. É como se entrássemos num autocarro. É tudo muito prático, muito pragmático: os americanos têm definitivamente uma relação utilitária com os aviões. Mais horas de voo até que se aterra em Saint-Louis, e depois em Houston.

(...)

Texas é o tédio, os avisos de tornados no verão, a peregrinação até Waco. O Texas é um espaço imenso, vazio e plano – andam-se centenas de milhas só para se ir ver um viaduto ou uma pontezita. O Texas é um espaço onde as vozes da Dulce Pontes, da Teresa Salgueiro e da Amália ecoam diferentes, ressumando saudade e portugalidade, num clichet de emigrante tantas vezes repetido.

(...)

O Texas é, também ele, a América dos contrastes.


Cedar Creek, Texas
Formato Portugal é um país demasiado pobre para poder celebrar condignamente o Natal com uma saudável consciência cívica. Sendo uma festa essencialmente intimista não faz sentido ser celebrada a nível comunitário. Só vem reforçar a tendência marcadamente individualista e irracional que governa o habitual quotidiano.
POL | Suplemento Computadores | Sapo entra hoje nos blogues (Pedro Fonseca) (...) Como explicou no Encontro, 'o blogue não é a ferramenta mas a comunicação', tal como não interessa de que é feito um automóvel mas o que ele permite fazer. Nesse sentido, são uma 'esfera de convívio e troca de ideias, sem [o seu autor] precisar de se deslocar geograficamente - não são precisos mapas', referiu, puxando por uma ideia mais tarde repetida tendo em conta o local do evento. Para o sociólogo Guilherme Statter, os blogues 'são como as epístolas, são cartas abertas'.

(...)

Como sintetizou Pedro Lomba, do Flor de Obsessão, "ter um blogue é importante para a minha vida". É um exercício de prática escrita normalmente diária, que recomenda a quem quer escrever.

"Ninguém está nos blogues se não for narcisista", referiu ainda [Pedro Lomba], ganhando "quem escrever melhor". Sendo uma edição pública, pode chamar a atenção de directores de jornais ou de editores livreiros. Um blogue "é como um exercício de escrita, obriga a ter disciplina, é fácil, é gratuito e recompensa ter pessoas que dizem não gostar do que eu escrevo".

Também Pedro Mexia, do Dicionário do Diabo, alinhou no mesmo discurso: "Um blogue ou uma coluna de opinião é de alguém que tem a presunção - pateta, com certeza - de que tem algo a dizer", quer ser citado e ter algum retorno comunicacional dos leitores. Por isso, "é necessário descriminalizar essa ideia do sucesso, da audiência."

(...)

De um ponto de vista mais sociológico, Guilherme Statter olha para os blogues como um espaço de "adensamento e aumento do capital social", e, no seu entender, é um "reflexo da sociedade de onde emana". Tal como as sociedades crescem, evoluem e mudam, o mesmo deverá suceder com este espaço público. Ou, como finalizou José Mário Silva sobre a blogosfera: "Não sei que futuro vai ter, mas sei que vai ter futuro."

domingo, novembro 02, 2003

DESEJO CASAR Há pessoas que têm medo de tocar. Há pessoas irritantes, que dão apertos de mão frouxos, vazios. Há vários tipos de pessoas. E, para algumas, a maneira como nos tocam é uma assinatura. É um gesto simbólico que diz do que sentem por nós. Que digo? É um prémio. Sim, por vezes é mesmo um prémio.
Formato Tenho uma gata que todas as manhâs vai para a janela observar com particular atenção os cães do vizinho, os vizinhos, a rua, e as coisas invisiveis que nós os humanos não vemos nem ouvimos. Demora-se por várias horas nesta contemplação .Normalmente quando volto a casa ao fim da tarde já se deixou dormir. Que verá ela? Não sei. Mas julgo que é feliz.

sábado, novembro 01, 2003

Amor
Hoje (Paris)
Seriam estas as mesmas nuvens que iriam passar à tua janela?
A Natureza do Mal Que fale
O Sol está a bombardear a Terra com tempestades magnéticas gigantescas. Ondas de protões varrem os continentes, despejadas por vómitos da nossa pequena estrela convulsiva. Avisaram os pilotos de aviões e os bombeiros da califórnia. Parece que o fenómeno se traduz em gigantescas auroras boreais que podem ser vistas no Alasca e em outros sítios desérticos da Ásia.
Perturba-me esta exuberância de energia para nada, este excesso dos céus sem espectadores.
Se alguém perceber o que isto quer dizer- tu que acreditas que a morte nos puxa para cima, que não fique calado.


// posted by Luis
A aba de Heisenberg
quando a porta se abriu,
perguntaste quem era_

não se pergunta ao amor
que nome tem_

albano martins, in 'escrito a vermelho', campo das letras, 1999


# posted by Joao C
Modus Vivendi Revelação

A única verdade que nos é dada está no movimento da procura.

Ernesto Ferrero, in N., Teorema.
100nada (pt)
Profissão: blogger

Hobby: professor, biólogo, sociólogo, economista, jornalista, funcionário público, desempregado, estudante, advogado, engenheiro, escritor, médico, arquitecto, empresário, informático

Perfil: inteligente, interessado, humano, perspicaz, humorista, jarra de flores (auto retrato), céptico, crítico, simpático

Ar: ar normal, ar blasé, ar cómico, ar giro, ar amável, ar lavadinho, ar gravatinha, ar camisolão, ar de estátua, ar activo

Em comum: escrever.