quinta-feira, dezembro 25, 2003

Textos de Contracapa Começo a sentir-me bem por aqui. Pena que o tempo não chegue para ler tudo o que é interessante.
Dizem que o meu template se confunde com o dos pipis. Não sei o que é, tenho de ir ver.
Ponto e Vírgula Inveja pontual,

A Vírgula trabalha ao sábado à tarde. Independentemente do sol. O Ponto sabe disso.

Espero que te engasgues com a areia e que apanhes sempre bandeira vermelha.
posted by Vírgula 4:09 PM

quarta-feira, dezembro 24, 2003

O Blog dos Putos O vício

Está a atingir dimensões preocupantes a minha adicção paróxica por blogs.
Agora até já dou por mim a ir ao meu blog, onde só eu escrevo, sublinhe-se, ver se há algum post novo. Sublinho, só eu lá escrevo.

Socorro!
posted by Puto Paradoxo
O Quarto do Pulha Um dedo gorduroso resvalou para o botão número 2. Aconteceu aparecer no écran o Acontece (uma espécie de “É a cultura, estúpido”, sem piadas). O Carlos Pinto Coelho riu, pois sabia que eu me ria também.
Nota positiva para a gravata do apresentador, cujo padrão combinava com o estúdio.
Prazer Inculto Passa das 2 da manhã e o Fernando Rocha está em directo, na SIC, perante uma plateia em estado de hilariedade total. Novamente aplaudido de pé.
Imagino que seja um apelo à nossa tolerância e às alegrias da diversidade cultural. Outra hipótese interessante seria passar-lhe com um compressor por cima.

terça-feira, dezembro 23, 2003

Gato Fedorento Excerto do último discurso do Papa João Paulo II: "Deus é como o Casino de Lisboa: está em todo o lado." MG
Contra a Corrente Querem saber qual a melhor maneira para se passar a ser pessimista, quanto ao futuro da humanidade? Experimentem falar com um aluno universitário ou com um dirigente académico. Como diria o Nelson Rodrigues, hoje em dia, diante da omnipotência de um jovem universitário, um adulto tem, por vezes, um olhar estrábico de pavor.

segunda-feira, dezembro 22, 2003

Dicionário do Diabo VERNÁCULO: No Flashback, diz José Magalhães, irritado, a Pacheco Pereira: «Ó Pacheco, vá escrever o blog». Ou: a blogosfera como eufemismo.
Núcleo Duro Tudo no universo vem do nada. Nada – o inominado é o princípio... Segue a não-existência de Tao e serás como ele, sem precisar de nada, contemplando a maravilha e a essência de tudo. Quando compreenderem isto, os adeptos do Benfica vão parar de se preocupar com as teias de aranha na sua estante de troféus.
Tradução Simultânea MASSACRE DE SANTO ANTÓNIO Turbas ébrias e ululantes. Bairros inteiros invadidos por bárbaros. Sardinhas ao preço de um T1. O body count no dia seguinte. The horror...The horror...

domingo, dezembro 21, 2003

Em Busca da Limpida Medida Todas as palavras

São apenas, pois, o intervalo dos gestos contínuos, que devem ser tudo. Os pensamentos que as palavras traduzem - só isso devem traduzir - nunca se ame com palavras! mas com gestos! - desejo que vos inspirem, ajudem.

sexta-feira, dezembro 19, 2003

Aviz Todos somos um pouco errantes, um pouco.
epiderme ...e já não existem pontos de partida, já só existem encruzilhadas. Lugares no tempo em que somos confrontados com escolhas. Momentos decisivos. Parar, voltar para trás ou simplesmente sair do caminho. Ou podemos dar o passo que falta e seguir em frente, rasgar um percurso, sem certezas, mas tentar. Tudo foi já iniciado. Há muito. Conhecemos já demasiado bem a estrada para a inventar de novo. Mas podemos inventar o que falta, preencher os espaços em branco, sonhar mais um pouco. Podemos escolher fazê-lo. Há quem tropece, claro, ninguém disse que ia ser fácil. Mas por alguma estranha razão existem mesmo alguns loucos, muitos mesmo, que se atrevem a arriscar o novo, o não experimentado. O futuro. Há quem goste de provar que tudo é inflamável.

(o futuro é cada palavra ainda não lida desta frase)
Memória Inventada PAISAGENS: A SOMBRA DE KUBRICK

Às duas da tarde de um dia de Inverno, visto de perfil e em contra-luz, o delgado edifício sede das nações unidas lembra o monólito do 2001, Odisseia no Espaço. Só a seguir me dei conta de todas as implicações que a comparação encerra.

quinta-feira, dezembro 18, 2003

Destination_myself Pen friend...
Quando o correio era a única forma de comunicarmos, trocavamos cartas longas e recheadas de novidades. A milhares de Km de distância, o tempo de espera fazia de cada carta um momento especial.

Agora temos a net... os segundos de distância transformaram o nosso vocabulário e cada e-mail tornou-se uma obrigação. Parece que quanto mais próximos, menos temos para nos dizer...

Há amizades que precisam ser consumidas devagar, para que cada momento não perca o seu brilho e possa ser reconhecido na imensidão de luzes da vida.
Dædalus Em 17 de Dezembro de 2003, os irmãos Wright ampliavam os horizontes da imaginação humana ao libertarem-se pela primeira vez [presumivelmente] do fado da gravidade com a ajuda de um planador a motor mais pesado que o ar. Orville e Wilbur testaram com êxito o seu planador, Wright Flyer, nos Montes Kill Devil na Carolina do Norte.
Felizmente para os anti-americanos primários existe o pequeno brasileiro Alberto Santos-Dumont. Porquê felizmente? Porque para muitos este mineiro de apenas 1,50m é que é o verdadeiro pai da aviação. Três anos depois do suposto feito alado dos Wright Bros., Santos-Dumont, a bordo do seu 14-Bis, sobrevoou o Campo de Bagatelle em Paris perante os olhares varados de 300.000 franceses.
A propaganda americana releva o feito dos Wright, os brasileiros realçam o feito de Santos-Dumont. Eu prefiro elogiar as quimeras tornadas realidade de uns e outros.

segunda-feira, dezembro 15, 2003

Retorica e Persuasao No Público de hoje, o Dig.º Bastonário da Ordem dos Advogados resolveu apelidar Sócrates de 'grande sofista'.

Por momentos julguei até que não estivesse a referir-se ao Sócrates grego...
little black spot num desastre de intimidade excessiva, a matéria deste blog torna-se tecido orgânico. de uma ponta à outra o rasga uma ferida aberta, expondo a carne viva do que sou, do que trago por dentro. um rosto de menina que há muito perdi - envelhecerei bruscamente, como Duras -, as mãos frias abandonadas na indiferença dos bolsos, os olhos em dolorosa expectância do vazio.
acordou esta noite o buraco no peito, grita e lateja e arde, e à minha volta cresce a noite negra onde aquele canto que tudo sabe me descobre. escrevo como quem escava, pouco há de mim que resista ao deserto. vivo em pleno desencontro, auscultando as ruínas dos sonhos desfeitos. passo os dias a procurar-me entre os escombros.
por vezes acontece doer-me a tua ausência - porque estás aqui mas há muito já partiste para sempre - e em momentos assim, como este, dispo-me de tudo, da própria pele, entristeço mais um pouco, definho e desapareço aos poucos num choro sossegadinho, disfarçado, de que ninguém suspeita.
flor de obsessão Podemos passar a vida a relembrar a aliança passada entre os Estados Unidos e Saddam, que teve, aliás, o seu contexto, os seus motivos e os seus protagonistas. Podemos passar a vida a exprobrar a hipocrisia americana. Eu pensava que o vício maior de um país (ou, de resto, de uma pessoa) não é tanto a hipocrisia mas a persistência no erro. Julgar em permanência um país pelos pecados da sua História externa não é apenas anacronismo; revela um grau exagerado de desonestidade intelectual. Eu não aprovo toda a História dos Estados Unidos. Mas sei que é positivo e acertado, quando um país se mostra inflexível com um regime totalitário.

domingo, dezembro 14, 2003

ABRUPTO Mal levantei os olhos, o céu foi riscado por um meteorito. Ainda há demasiada lua para se poder tomar partido do escuro mais frio, mas, à volta de Oríon, as estrelas brilhavam. O meteorito atravessou de Norte para Sul, um trajecto pouco habitual. Durou o costume, quase nada. Não deu tempo.

sexta-feira, dezembro 12, 2003

Cronicas do Deserto E se falássemos da preguiça, da indolência, do gosto de nada ter para fazer, do gosto de nada apetecer fazer. Sei que é pecado, e dos mortais, mas sinto um enorme prazer em disfrutar do prazer do nada fazer.
Os meus dedos contactam com este teclado, algumas ideias perpassam para a folha branca do monitor, e o prazer assume a forma de palavras, frases, sentimentos.
Afinal é fim de semana e as frivolidades marcam presença.
bomba inteligente A blogosfera pode ser mais bem aproveitada por pessoas que não estão interessadas em revelarem nada delas próprias, mesmo quando assinam com o nome completo, ou por escritores que pretendem experimentar novas coreografias. Para os que gostam da teoria e a querem ver aplicada ou exposta no dia-a-dia e se envolvem em tudo o que escrevem, é provável que o cansaço seja maior ou que seja mais depressa atingido.
miniscente [Luis Carmelo sobre a escrita dos blogs] (...) uma escrita livre e pessoal, fragmentária e aberta, fortemente intertextual e contaminada, dissociada de um suporte que a tornasse num organismo centrado, tendencialmente estático e alérgica ao interactivo (...)
A Praia Procuro reparar nas imagens, mas acho que continuo essencialmente sensível ao texto: as tiras do Calvin de que acabo por gostar mais são sempre as explicitamente «filosóficas», em que a única actividade a que os dois se dedicam é passear, para terem o tempo e o espaço para produzir insights incrivelmente acutilantes sobre a vida.
aDeus Mais ou menos todos os blogs são umbiguistas?

quinta-feira, dezembro 11, 2003

(o vento lá fora) Tudo o que eu poderia, se me desse ao trabalho, opinar sobre as eleições na Rússia está resumido numa entrada demolidora de Daniel Oliveira no Barnabé. Ei-la: «O partido mais votado, usa o Estado para manipular a democracia. Os dois seguintes, por sua vontade, acabavam já hoje com a democracia.». Raramente tão poucas palavras dizem tanto.
o quarto do pulha O meu caso...
... é muito simples. Não gosto do meu blogue.

quarta-feira, dezembro 10, 2003

Uns e Outros Devagar, devagarinho, aproxima-se a noite mais solitária do ano.

segunda-feira, dezembro 08, 2003

a formiga de langton [...] Espaços contemporâneos do anonimato onde a identidade das pessoas já não terá mais referências nem apoios de solidariedade que as cartas de identificação e de crédito; onde os laços humanos reduziram-se talvez, à casualidade de breves conversas, sempre transitórias e desconexas, com desconhecidos. Nas anónimas autoestradas, aeroportos, as estações de comboio, centros comerciais, os corredores do metro, ou as praças desumanizadas das grandes metrópoles, descobre-se no presente a condição dos cidadãos do futuro [...]

Assenta que nem uma luva para tanto blogue. Basta trocar a primeira palavra: 'Espaços' por 'Blogues'. O último destes piava. E já morreu. Outros eram máscaras, só máscaras, sem mais nada, dando azo a uma venda baseada na imagem, mas no fundo restringindo-se na mediocridade a um conteúdo demasiado etéreo. Outros reduziram-se a si mesmos, a meros contadores. Sendo tão vago ser hoje o trezentos mil, como amanhã o quatrocentos mil. Outros não voam. Outros falam para si próprios. Outros pedem links em praças vazias, comentam a sós nos corredores de metro, vagueiam por aeroportos, cruzam centros comerciais. Encontram-se pela cache do google às dúzias. É a memória do nada...É a gestão do vazio...

quinta-feira, dezembro 04, 2003

Sublinhar Para quem me perguntou porque escrevo:

“Ficções de interlúdio, cobrindo coloridamente o marasmo e a desídia da nossa íntima descrença.”

quarta-feira, dezembro 03, 2003

Em Busca da Limpida Medida

porque

A verdade é uma criança crescendo.

Não é o Nada nem é o Absoluto. É algo que se há-de assemelhar a uma forma sempre cambiante, que arde e dói, que extasia e enobrece e que, mesmo ardendo nas mãos e no peito, podemos aprender a transportar. Algo que não deixamos de amar mesmo que permanentemente se refunda, flua e reflua. Eis uma criança crescendo. Eis a verdade.

Está longe das certezas da modernidade, de Descartes a Hegel e está para além dos vaticínios da pós-modernidade de Lacan a Derrida. Está viva, embora mudando. Não está morta, pulsa.

Está também para além de Kierkegaard, Nietzsche, Heidegger ou Sartre pois a verdade não é uma intencional existência afirmando-se. É uma busca que pode buscar-se a si mesma, enquanto explicação do percurso e não da chegada.

Não há intenção há deslumbre e chamamento.

Nada de novo, vou em busca.
Azul cobalto. 'Nenhum crime é vulgar, mas toda a vulgaridade é um crime.'
Wilde, O. (2002). Poemas em prosa. Lisboa: Cavalo de Ferro.
Albergue dos danados Um país chamado Campolide

As pátrias mais simpáticas são aquelas onde as improbabilidades não são assim tão improváveis. Em muitos paralelos ou meridianos pode ser considerado estranho o chão colapsar, abrir-se uma catera e nela alojar-se, a pique, um autocarro. Mas é isto que faz de Campolide, primeiro, e Portugal, depois, terras maravilhosas. Pois é das terras maravilhosas aluírem e, na sua sequência, tragarem autocarros.
Intervalo Doloroso / (Sublinhar) Ressalvo a minha condição de simples aprendiz, de garoto encantado com aquilo que os outros conseguem criar com as palavras, e que seguindo os seu movimentos com toda a atenção espera um dia vir a ser artesão também.
Por enquanto vou experimentando toscamente, por isso blogo.

terça-feira, dezembro 02, 2003

Voz do Deserto O Gato Pardo escreve que sou o o melhor 'coiso' da net, em forma de Livro de Aforismos. O aDeus atribui-me o Prémio 'Melhor template em tons de baunilha'. Esta coisa dos blogues tem feito maravilhas pela minha auto-estima. Agradeço. Os discípulos complexados foram muitas vezes aqueles que venderam o seu Mestre.
Gatopardo O post que jurei não escrever.

O meu contador de páginas chegou ao milhar. Para celebrar vou retira-lo.
Em quatro meses. Fazendo hoje a média dá 250 por mês e umas ... 8 páginas vistas por dia.
Impõem-se um balanço:
Estou mesmo fora do tempo e do espaço.
Não tenho um único amigo que tenha um blog.
O que escrevo aqui, nem à minha mãe mostrava.

(...)

Apesar do embaraço diário, de ler o que escrevi no dia anterior, posso continuar, sem medo de ser lido, a escrever para mim. Isto é liberdade total.
Probabilidade Subjectiva [sobre A Tradução das Coisas, de Eduardo Prado Coelho] (...) Prado Coelho procura mostrar como a criação de um meio de comunicação fácil e acessível onde a figura da opinião confessional é a matriz para a socialização, se transforma num incentivo para a verbalização incontida da subjectividade. O "dispositivo Blogue" produz textos e produz identidades inter-individuais cujos traços mais salientes são o uso da primeira pessoa do singular; o predomínio da observação curta e da imagem; a obrigação de transmitir regularmente relatos e crónicas mais ou menos vivenciais; a auscultação obsessiva de audiências; a construção de uma reflexividade centrada no acontecimento imediato; o narcisismo ingénuo; a socialização inclusiva; a partilha de redes de citação e sobrecitação (citação de citação de citação), por vezes a sombra descupabilizante do anonimato.
A criatividade individual encaminha-se assim para a criatividade de uma escolha entre este ou aquele formato ( os formatos visuais dos blogues infinitamente monótonos são analisados com ironia em cinco páginas do livro), entre este ou aquele pensamento.
Prado Coelho, não nega que novos fenómenos possam emergir destes "viveiros comunicacionais", mas afirma que o papel do "dispositivo Blog" como condicionamento anterior às escolhas individuais é suficientemente importante para produzir dois níveis de consequências: em primeiro lugar, fomentar a "ilusão ficcional que cada sujeito pode ser um Autor"; em segundo fomentar a "ilusão de que os fenómenos tem a espessura temporal da sua instantaneidade".

O contexto de produção de textos e a tecnologia de tradução da internet vem assim privilegiar uma certa maneira de olhar para as coisas, de seleccionar assuntos, de narrar observações, de encontrar interlocutores. E a existência de mais hipóteses para os indivíduos exprimirem a sua subjectividade, a sua opinião, os seus interesses, não significa que essas opiniões sejam mais individualizadas nem que correspondam a verdadeiras descobertas de si ou do mundo. O paradoxo, conclui o autor, está em que quanto mais os indivíduos se sentem diferentes, mais eles se tornam iguais, construindo identidades baseadas na repetição, na sobrecitação, na imitação.
Grande Superfí­cie Releio o header do meu blog. Não me reconheço nele. Deprimente... Mudá-lo? Não. O que está escrito está escrito, todos os dias acordamos diferentes.

segunda-feira, dezembro 01, 2003

Aviz COISAS COMPLICADAS, EU SEI. De vez em quando há, nos blogs, uma inexplicável tendência para complicar aquilo que pode ser simples, como concordar, discordar, citar, dizer que se gosta de um filme ou de um livro. É, certamente, vício de linguagem. A coisa anda ali à volta, à volta, à volta. Nessas alturas lembro-me de uma frase de Stephen Jay Gould: «Sim, eu sei. A Terra, de facto, gira em volta do Sol, e a evolução de facto regula a história da vida, mas duvido que algum dia possamos identificar Jack, o Estripador.»

sábado, novembro 29, 2003

flor de obsessão As minhas desculpas pela falta de 'posts'. Apeteceu-me francamente espairecer uns dias sem pensar muito nisto. O mais terrível de um blogue é a sua perpétua desactualização. O dia de ontem é lixo. O importante é o que ainda não escrevemos, o que está para aparecer. O nosso inimigo mais fundo é o tempo, tempo que nunca termina, que faz dos 'posts' antigos relíquias mais obsoletas do que uma página do jornal de véspera. É bom parar de vez em quando para percebermos que nada deve ser assim tão urgente, tão veloz, tão inacessível. Bom fim-de-semana. Bom-feriado.

sexta-feira, novembro 28, 2003

aDeus
Onde é que eu acabo e começa a caneta?
Onde é que a caneta acaba e começa a folha?
Onde é que a folha acaba e a mesa começa?
Onde é que a mesa acaba e a sala começa?
Onde é que a sala acaba e a rua começa?
Onde é que rua acaba e a cidade começa?
Onde é que a cidade acaba e a estrada começa?
Onde é que a estrada acaba e a (outra) cidade começa?
Onde é que a essa cidade acaba e a rua começa?
Onde é que a rua acaba e a sala começa?
Onde é que sala acaba e a mesa começa?
Onde é que a folha acaba e esta folha começa?
Onde é que esta folha acaba e onde é que tu começas?
Do Lado de Lá 'Os jovens de hoje são frequentemente autoritários. O mundo tem de girar em torno das suas verdades e necessidades. Por estarem abarrotados de informações, acham que entendem de tudo. Raramente uma pessoa mais velha consegue mudar as rotas do que pensam e sentem. Porquê? Porque não aprenderam a duvidar de si mesmos, a questionar as suas opiniões e a colocarem-se no lugar dos outros.'
[Augusto Jorge Cury, O Mestre do Amor]

quinta-feira, novembro 27, 2003

epiderme Aparentemente, só não se conhece o que ainda não foi inventado. Já fomos todos à Índia, ao Japão e já todos atravessámos os Estados Unidos pela 66 num Cadillac de pneus carecas. Porque já vimos os postais, os documentários, os filmes e até fizemos um grande esforço para descolar o olhar das imagens e ler uns quantos livros. É a desvalorização total da experiência. Entretanto, acreditamos viajar pelo mundo num ecrã, enquanto nos sentamos confortavelmente com um refresco na mão. Tudo nos parece familiar e próximo, como se o mundo fosse mais um adereço que se arruma todos os dias ao lado dos chinelos.
Grande Superfí­cie A estranha sensação de estar só na blog-esfera. Inexperiente e incauto, coloquei nos comments vazios o dístico: ninguém. Olho para o blog e leio: ninguém, ninguém, ninguém... Não poderia ter arranjado melhor maneira de lembrar a mim mesmo que estou só.
Ruminaçœs Digitais A ignorância não produz felicidade. A ignorância limita, dilui diferenças, reduz opções, aproxima sentimentos. Da apatia à violência, do prazer à inveja, do desejo à satisfação do desejo. O conhecimento também não produz felicidade. Traça fronteiras e expande-as, intensifica tudo (o bom e o mau), permite a escolha dos caminhos possíveis e exige a responsabilidade dessa escolha. Ao limitar os desejos limita-nos, mas não limita os outros.

sLx
(o vento lá fora) A verdade, meus amigos!, (ler com o estimável sotaque do professor Hermano Saraiva) é que os metablogues são característicos das blogosferas de segunda geração, por assim dizer. Além de nos fornecerem material de reflexão séria (nunca é escusado mencionar a importância do Metablogue) proporcionam uma alternativa credível e válida ao actual sistema de follow the white rabbit com que funciona a blogosfera lusa.
Deixem de ver no metabloguismo apenas o fulanismo (sim, fiz evoluir o conceito de umbigo...). Eu vejo no metabloguismo a oportunidade de ler blogs que outros acharam fundamentais, interessantes, dignos de registo.
Metablogar não é (apenas) falar sobre blogs, é relevar os melhores conteúdos dos melhores blogs. Pelo menos é essa a meta :->
Chá de Menta Semelhantemente ao universo real, confesso que sinto uma insegurança virtual: terá algum valor as coisas que digo e partilho neste meio? A insegurança fica em segundo plano diante da satisfação que viver este blog proporciona.

terça-feira, novembro 25, 2003

Estranho Amor O Amor é lógico

Um leão com azia, uma cegonha orfã, um cão sem dono, uma hiena melancólica, um elefante constipado, um pirilampo fundido, um leopardo coxo, um rouxinol rouco, uma andorinha sem ninho, uma víbora antidotosa e eu sem ti.

Existem coisas que fazem todo o sentido.
Ponto & Vírgula Descubro, no Aviz, uma denonimação curiosa para as surpresas que interrompem a paisagem da blogosfera – relâmpagos, chama-lhes o Francisco.
Classe Média Confusões
Dizer pensinho higiénico (por oposição a penso higiénico) não diminui o tempo em que podemos ser ouvidos a falar da higiene íntima da mulher. Prolonga-o.
A Natureza do Mal Darwin, ainda jovem, logo após o regresso do Beagle, anota este parágrafo no seu caderno de apontamentos:

“Platão diz no Fédon que as nossas ideias imaginárias têm origem na preexistência da alma e não provêm da experiência. Ler «macacos» em vez de «preexistência da alma»'.

À ideia platónica do reino eterno de essências perfeitas bate-se assim, com este tom de desafio, quase provocação. Como será uma vida assim? A coleccionar evidências para, dia sim dia não, com graça, derrotar o mundo que os Homens inventaram. Deve ter sido puro prazer.

(Sofia)

segunda-feira, novembro 24, 2003

Aviz Ora, apesar do «efeito pernicioso» dos «blogs mais mediáticos», reconheço que muitos textos que me comoveram, que chamaram a minha atenção por motivos sérios ou risíveis, vêm de blogs anónimos (ou, pelo menos, de pessoas que não conheço). São, como escrevi antes, relâmpagos que iluminam a paisagem. A paisagem, nós sabemos como é: tem os seus declives, os seus rios, as suas montanhas — mas os relâmpagos não são previsíveis como a paisagem. De vez em quando descubro um blog que tem aquela frase, ou que vê aquele pormenor. Como isto não é uma batalha letal, não digo que eles estão certos — digo só que me juntei a eles, que os juntei nas minhas leituras, que me comoveram de alguma maneira.

sexta-feira, novembro 21, 2003

Sublinhar Diário

Em 1876, Fiódor Dostoiesvky começa a publicação de uma folha mensal que pretendia que fosse 'um diário íntimo, em toda a acepção da palavra, isto é, um fiel relato do que mais me interessou pessoalmente.'
Ou seja, algo muito parecido com um blog.

Mas três meses depois ele escreve:
'Custa a crer, mas é verdade, ainda não encontrei a forma do Diário, e não sei se algum dia encontrarei... Assim, tenho 10 ou 15 assuntos (pelo menos) para tratar, quando me sento para escrever. Todavia, os meus assuntos preferidos, afasto-os involuntariamente. Ocupar-me-iam demasiado espaço, exigiriam demasiao ardor da minha parte... e, deste modo, não escrevo o que me agrada. Por outro lado, imaginei com demasiada ingenuidade que se trataria de um autêntico 'Diário'. Um verdadeiro 'Diário' é impossível; só se pode fazer um diário artificialmente preparado para o público...'

Eu, ao escrever aqui, sinto muitas vezes essa mesma artificialidade... essa mesma impossibilidade de escrever tudo...
e espero, ingenuamente, que os silêncios possam dizer o que calo... mas isso, sei-o bem, é um desejo condenado ao fracasso.

Em Busca da Límpida Medida

Em Busca da Limpida Medida O outro lado da lua - é sabido - nunca se revela, por isso seria, desde logo, tarefa difícil tentar compreendê-lo e, bem assim, intuí-lo. No entanto, o ciberespaço e os blogs, pela sua natureza confessional, convocam uma tendência intuitiva muito forte. Dou por mim a assumir os sentimentos daqueles que estão por trás das palavras e das imagens de certos blogs, embora tal intuição não resista, de modo nenhum, a uma análise fria do real conhecimento que tenho dessas pessoas. Mas, por outro lado, falo de intuições e estas operam justamente nos limites da razão, muito para além dela.

quarta-feira, novembro 19, 2003

Guerra e Pas

Guerra e Pas Esta ocorrência que felizmente parece estar bem resolvida - um jornalista raptado e uma ferida - mostra como os jornalistas enfrentam o paradoxos dos paradoxos - terem de falar de si mesmos e das suas praxis.
A sobriedade foi o véu que cobriu a paralisia e todos ficaram lindamente na fotografia, porque, não tenhamos dúvidas, se fosse uma oficial da GNR a apanhar um tiro, já conheceríamos a sua aldeia, a sua família, os seus colegas, os seus amores, os seus passatempos, o presidente do seu clube teria aparecido com uma camisola e o Governo teria sido trucidado por não ter previsto que havia bandidos armados, intrometidos na guerra.

sexta-feira, novembro 14, 2003

Aviz NOITE. A Ana Gomes Ferreira enviou-me um poema, publicado na antologia Um Poeta Faz-se ao 10 anos (Assírio & Alvim, 1973), onde um miúdo dessa idade, Nuno, escreve um poema sobre a noite. Há uma passagem assim:

«Existe ainda outra forma/ de classificar a noite,/ diz-se que é a plataforma/ da vinda áspera do coiote.»
ABRUPTO Eu tenho um lado, mas ninguém me ouvirá dizer que este é o lado de Deus, como na canção de Bob Dylan. Mas ouvir-me-ão dizer que este é um lado dos homens, do modo de vida que escolhi (escolhemos), de uma precária mas identificada civilização (a palavra é adequada) que já mostrou o que vale e que não vive do terror, nem da violência, mas da procura da conciliação de interesses e modos de vida. Nenhuma outra civilização me dá as liberdades e a possibilidade de felicidade que esta me dá, a mim e, potencialmente, a todos os homens. Não estou certo de tudo, mas das duas frases anteriores estou inteiramente convicto.

quarta-feira, novembro 12, 2003

|Murmúrios do Silêncio| Há uma fúria devoradora no dizer. Na obsessão de comunicar. Na busca incessante da palavra e do verbo. Do choque e do encantamento. Do propósito e do enunciado. Da verdade maior de nos reencontrarmos na perfeição das letras, para lá da deformação dos objectos. Quando somos o abismo da ideia: pensamos, escrevemos, escrevemos, pensamos. No géiser de todo o processo criativo. Nos instantes que se sucedem. Em todos, o encontro da essência.

terça-feira, novembro 11, 2003

ABRUPTO Hoje é feriado belga e todos os noticiários desta parte da Europa abrem com as comemorações do Armistício que terminou com a guerra de 1914-18. Compreende-se porquê: com o seu cortejo de milhões de mortos, a guerra cavou fundo na memória em França, na Alemanha, na Bélgica. Os campos de mortos estão sempre à distância de poucos quilómetros.

Nos noticiários portugueses, nada, embora Portugal tenha participado na guerra e também tenha cá mortos. Se o esquecimento fosse só com a guerra de 1914-18, vá que não vá. Agora, o que mais me intriga é a nossa capacidade de amnésia colectiva em relação a quase tudo. Dos últimos duzentos anos nada sobra, a não ser um 5 de Outubro, penosamente recordado à força, e um 25 de Abril que, como tem vivas as suas gerações, ainda é lembrado.

Bom dia , memória!
flor de obsessão A imprensa caseira, especialista no tema, tem elogiado a jornalista espanhola que se tornou noiva de Filipe de Espanha. A menina parece ter garra. Até mandou calar o príncipe. Tudo isto me parece sumamente irrelevante. Eu não quero saber se a futura princesa é dada à garridice ou à doçura. Dispenso pormenores sobre a boda. Passo os discursos públicos. Quero saber duas, três coisas realmente importantes. Quero saber quem vai bater em quem? Quem é a vítima? Quero saber quem ama menos? Sobretudo isto: quem ama menos? Em todo o conúbio amoroso há alguém que ama menos. O embeiçamento nunca é igual para quem se cruza. Os amantes são um contínuo desequilíbrio. O marxismo não chegou ao amor.

domingo, novembro 09, 2003

A Natureza do Mal Leonardo

(...)

Hoje convivemos com a sensação de que as grandes vitórias da ciência já aconteceram, de que os passos que damos são curtos, ao pormenor, e que é de um esforço conjunto de disciplinas que surge o progresso. É verdade, foi sempre verdade, não constam da História homens a inventar sozinhos questões para a humanidade. Mas é encantador pensar que às vezes, sem querer, um de nós vê mais longe e com espanto, empurra o mundo contra o tempo.
Modus Vivendi Pergunta ao oráculo

Se o vento sopra em rajada, se a chuva bate com estrondo na vidraça, por que razão o sol brilha dentro da chávena de chá?
Outro, eu A razão porque não expresso aqui, mais frequentemente, algumas das minhas opiniões deve-se ao facto de, eu próprio, nem sempre concordar inteiramente com elas.
Azul cobalto. O voo nocturno e o coração por bússola.

sábado, novembro 08, 2003

oblogalternativo Vi esta no Overdose City: 'Quando a gente pensa que sabe todas as respostas, vem a vida e muda as perguntas...' Gostei...
little black spot um dos motivos porque me fascina a ficção científica é a capacidade de provocar o espanto - em inglês o belíssimo 'awe'. este espanto deriva da introdução inesperada de pequenos momentos de reflexão existencial, em que os personagens ficcionados se tornam veículos de expressão de pequenas verdades substanciais sobre a natureza humana no Cosmos. hoje aconteceu-me muito simplesmente com o Babylon 5:

«só uma raça que possui um tempo de vida breve pode sentir a ilusão de que o amor é eterno.»

para isto não tenho palavras, nem é preciso.

quinta-feira, novembro 06, 2003

Retorica e Persuasao «(...) julgo que uma coisa é evidente: depois de conhecermos as pessoas, a agressividade atenua-se. Mesmo quando não gostamos das ideias ou da pinta de alguém (em pessoa), sempre temos a noção de que do outro lado não está apenas um p.c., de que as palavras voam e ferem, e isso torna-nos um bocadinho mais humanos.»- Pedro Mexia

Subcrevo inteiramente. Excelente ideia. A reter nesta nossa aventura virtual.
Formato 1
Lá fora na noite há forças esmagadoras que atiram planetas gigantescos uns contra os outros, entrechocam-se em explosões ciclópicas, matéria incandescente e fogo, eu olho para o silêncio e quando apago a luz sinto que perdi um instante.
100nada (pt) The solitude of self

Foi este comentário obscuro que o Mário fez a um post meu. Obscuro até ter lido o Retorta: Nos momentos de maior tristeza e desânimo estamos sós.
Azul cobalto. As flores encerram em si uma inevitabilidade: o efémero. Desenhá-las, pintá-las ou fotografá-las encerra em si uma determinação: a preservação. Há, por conseguinte, uma dualidade perversa na imagem gráfica de uma flor: a do efémero preservado.

quarta-feira, novembro 05, 2003

Exacto Dizia Bagão Félix, num programa da Bárbara Guimarães (além de bonita o programa dá-lhe um ar inteligente), que era Benfiquista pois precisava por vezes de ser incoerente. Magnífico; não pelo clube mas pela paixão. São homens como este que fazem crescer os sonhos.
A exigência de uma sociedade formal obriga-nos a ter momentos de incoerência, e isto será tão mais verdade quanto mais racional se for. A procura do absurdo aplica-se a todas as artes, mas aquela em que é mais perfeita reside na amizade. Relações despojadas do mais pequeno interesse mesquinho, o nosso, e onde não há desiguais. Connosco ou contra nós. E o tempo ditará que na memória fiquem primeiro estes momentos.
E é só isto Mestre Aviz; o resto, amanhã já esqueceu!

Ou, como diria o JPP, a memória não tem para mim quinze dias, nem quatro Expressos, nem dois meses de TSF.
Almocreve das Petas [Das Memorias - que diga-se, seria talvez a escrita mais memorialista, perturbante e intimista de toda a blogosfera, se tal fosse possível ...]

'Hoje acordei com este grito: eu não soube fazer uso da vida! O que me pesa é a inutilidade da vida. Agarro-me a um sonho; desfaz-se-me nas mãos; agarro-me a uma mentira e sempre a mesma voz me repete: - É inútil! Inútil! (...)
A vida antiga tinha raízes, talvez a vida futura as venha a ter. A nossa época é horrível porque já não cremos - e não cremos ainda. O passado desapareceu, de futuro nem alicerces existem. E aqui estamos nós sem tecto, entre ruínas, à espera ...' [Set. 1910]

- Raul Germano Brandão
do lado de cá Nos dias importantes, está sempre vento, estamos sempre sisudos, o carro anda sozinho porque nem olhamos para o que estamos a fazer, a música na rádio é sempre a errada.
Os dias importantes são, muitas vezes, os piores. Mesmo que sejam bons. Não sabemos o que dizer, não ouvimos o que nos dizem, nem queremos saber. Só pensamos no importante do dia. Prendemos o olhar no vazio, suspiramos a torto e a direito, roemos as unhas e os dedos, os nossos e os dos outros. Não interessa se depois os vamos guardar, se nos marcam, se nos mudam, se nos deixam tristes ou nos levam ao céu. São dias em que praticamente não existimos.
Amanhã é um dia importante.
Vermelhar todos já o sentimos na pele, e ninguém sabe explicar.
o quarto do pulha Insondável mistério o que leva a que emigrantes - alguns deslocados milhares de quilómetros, dos pardieiros onde nasceram - considerem Portugal um autêntico paraíso.
Insondável mistério ou tónico recomendado a deprimidos crónicos...
ABRUPTO Tenho estado a ver (em DVD) uma magnífica história da guerra civil americana realizada por Ken Burns, feita apenas por palavras da época, lidas sobre fotografias ou paisagens. Palavras de gente célebre e de homens comuns. O efeito é poderoso. As coisas fabulosas que homens como Lincoln, disseram, com uma mistura de verdade íntima, de afirmação moral e um leve toque de retórica , ou apenas de pensar bem e falar melhor.

terça-feira, novembro 04, 2003

Nao Esperem Nada De Mim Ben Harper valeu a pena. Eu não conhecia mais do que umas canções. E, de repente, deparo-me com um músico versátil, grato e afectuoso, dotado de uma voz e de uma capacidade de interpretação notável, acompanhado de músicos esforçados e idiossincráticos. Três horas inteiras de concerto - e, se lhe pedíssemos mais, mais ele nos daria, tal o seu encanto por aquele pavilhão com 20 mil pessoas rendidas. Foi clara essa gratidão, tal como foi clara a necessidade sentida por Ben Harper de compensá-la: cinco canções à viola, numa longa meia hora que não estava no programa, uma cantada de frente, quatro repartidas pelos dois cantos do palco, mais próximos dos espectadores oblíquos. Foram mil ritmos diferentes e mil melodias de origens distintas, numa espectáculo de sobriedade e eficácia como vi poucas vezes.
Prazer_Inculto TEMPUS FUGIT

'Já acabei de ler o Harry Potter', diz-me.
'As 700 páginas?!', admiro-me.
'Sim'.
'Em 5 dias?'
'Sim'.

Meu Deus: mudei as fraldas a um monstro!
Crítico Acho notável a chamada para o real que este blog [o quarto do pulha] faz, é um blog que não vive no faz de conta, da polidela e da engraxadela mútua. Um blog em que os bois são chamados pelos nomes e onde são pegados pelos cornos. Onde as imagens puxam para o belo e trágico mundo em que vivemos. Belo mas triste, e alegre me fiz triste ao lê-los.
Ainda bem que existem, para além do bem e do mal.
Monólogo há episódios da vida que se tornam decisivos porque marcam o que somos e orientam indelevelmente o nosso rumo.
o nascimento dos meus filhos foi o mais marcante desses episódios. depois, nada voltou a ser igual.
Blogue dos Marretas QUERO MAIS NOMES!
Só agora reparo: no DNa de Sábado, Pedro Rolo Duarte não revela mais nenhuma identidade secreta do Pipi. Anda um gajo a criar falsas expectativas de conhecer um Pipi novo todas as semanas para isto.
STATLER

segunda-feira, novembro 03, 2003

ContraFactos & Argumentos O Gato Fedorento escreve: 'Ouço a Provedora da Casa Pia dizer que, neste caso da pedofilia, “somos todos [portugueses] responsáveis”.
A léria do “somos todos responsáveis” é só uma variação do tipicamente português “ninguém tem a culpa”.
(...)
a generalização da responsabilidade só serve para desresponsabilizar os culpados.
Sublinhar Momento Zen

Uma das minhas maiores satisfações é cumprir os prazos de qualquer actividade a que me dedique. E hoje acabei um trabalho que deveria estar pronto amanhã. Estou feliz.
No Arame A voar pela primeira vez para as Américas, o que me surpreende primeiro é a vasta extensão gelada do Canadá. Nesta rota loxodrómica que me leva de Lisboa a Nova Iorque foge-se primeiro para Norte para só então chegar ao Leste – afinal, nem sempre o percurso mais curto entre dois pontos é uma linha recta.

Sob as asas, engolindo milhas e horas numa corrida pela paragem do tempo, desfila a tundra castanha, branca, pontuada aqui e ali por lagos que vistos daqui parecem charcos mais ou menos extensos.

Depois, é o esperar e esperar pela autorização de aterrar. Abaixo de mim, acima de mim, circulam aviões, em espirais que nunca cessam. Vêem-se-lhes as luzes, que piscam e piscam. Adivinho as faces descontraídas dos pilotos no cockpit, pressinto as mãos tensas dos controladores de aproximação do JFK no desencadear de um xadrez aéreo que não admite erros nem hesitações.

Depois, aterra-se. Passa-se pela linha amarela do Immigration Service e espera-se pelo voo de ligação para Houston, com escala em Saint-Louis. É como se entrássemos num autocarro. É tudo muito prático, muito pragmático: os americanos têm definitivamente uma relação utilitária com os aviões. Mais horas de voo até que se aterra em Saint-Louis, e depois em Houston.

(...)

Texas é o tédio, os avisos de tornados no verão, a peregrinação até Waco. O Texas é um espaço imenso, vazio e plano – andam-se centenas de milhas só para se ir ver um viaduto ou uma pontezita. O Texas é um espaço onde as vozes da Dulce Pontes, da Teresa Salgueiro e da Amália ecoam diferentes, ressumando saudade e portugalidade, num clichet de emigrante tantas vezes repetido.

(...)

O Texas é, também ele, a América dos contrastes.


Cedar Creek, Texas
Formato Portugal é um país demasiado pobre para poder celebrar condignamente o Natal com uma saudável consciência cívica. Sendo uma festa essencialmente intimista não faz sentido ser celebrada a nível comunitário. Só vem reforçar a tendência marcadamente individualista e irracional que governa o habitual quotidiano.
POL | Suplemento Computadores | Sapo entra hoje nos blogues (Pedro Fonseca) (...) Como explicou no Encontro, 'o blogue não é a ferramenta mas a comunicação', tal como não interessa de que é feito um automóvel mas o que ele permite fazer. Nesse sentido, são uma 'esfera de convívio e troca de ideias, sem [o seu autor] precisar de se deslocar geograficamente - não são precisos mapas', referiu, puxando por uma ideia mais tarde repetida tendo em conta o local do evento. Para o sociólogo Guilherme Statter, os blogues 'são como as epístolas, são cartas abertas'.

(...)

Como sintetizou Pedro Lomba, do Flor de Obsessão, "ter um blogue é importante para a minha vida". É um exercício de prática escrita normalmente diária, que recomenda a quem quer escrever.

"Ninguém está nos blogues se não for narcisista", referiu ainda [Pedro Lomba], ganhando "quem escrever melhor". Sendo uma edição pública, pode chamar a atenção de directores de jornais ou de editores livreiros. Um blogue "é como um exercício de escrita, obriga a ter disciplina, é fácil, é gratuito e recompensa ter pessoas que dizem não gostar do que eu escrevo".

Também Pedro Mexia, do Dicionário do Diabo, alinhou no mesmo discurso: "Um blogue ou uma coluna de opinião é de alguém que tem a presunção - pateta, com certeza - de que tem algo a dizer", quer ser citado e ter algum retorno comunicacional dos leitores. Por isso, "é necessário descriminalizar essa ideia do sucesso, da audiência."

(...)

De um ponto de vista mais sociológico, Guilherme Statter olha para os blogues como um espaço de "adensamento e aumento do capital social", e, no seu entender, é um "reflexo da sociedade de onde emana". Tal como as sociedades crescem, evoluem e mudam, o mesmo deverá suceder com este espaço público. Ou, como finalizou José Mário Silva sobre a blogosfera: "Não sei que futuro vai ter, mas sei que vai ter futuro."

domingo, novembro 02, 2003

DESEJO CASAR Há pessoas que têm medo de tocar. Há pessoas irritantes, que dão apertos de mão frouxos, vazios. Há vários tipos de pessoas. E, para algumas, a maneira como nos tocam é uma assinatura. É um gesto simbólico que diz do que sentem por nós. Que digo? É um prémio. Sim, por vezes é mesmo um prémio.
Formato Tenho uma gata que todas as manhâs vai para a janela observar com particular atenção os cães do vizinho, os vizinhos, a rua, e as coisas invisiveis que nós os humanos não vemos nem ouvimos. Demora-se por várias horas nesta contemplação .Normalmente quando volto a casa ao fim da tarde já se deixou dormir. Que verá ela? Não sei. Mas julgo que é feliz.

sábado, novembro 01, 2003

Amor
Hoje (Paris)
Seriam estas as mesmas nuvens que iriam passar à tua janela?
A Natureza do Mal Que fale
O Sol está a bombardear a Terra com tempestades magnéticas gigantescas. Ondas de protões varrem os continentes, despejadas por vómitos da nossa pequena estrela convulsiva. Avisaram os pilotos de aviões e os bombeiros da califórnia. Parece que o fenómeno se traduz em gigantescas auroras boreais que podem ser vistas no Alasca e em outros sítios desérticos da Ásia.
Perturba-me esta exuberância de energia para nada, este excesso dos céus sem espectadores.
Se alguém perceber o que isto quer dizer- tu que acreditas que a morte nos puxa para cima, que não fique calado.


// posted by Luis
A aba de Heisenberg
quando a porta se abriu,
perguntaste quem era_

não se pergunta ao amor
que nome tem_

albano martins, in 'escrito a vermelho', campo das letras, 1999


# posted by Joao C
Modus Vivendi Revelação

A única verdade que nos é dada está no movimento da procura.

Ernesto Ferrero, in N., Teorema.
100nada (pt)
Profissão: blogger

Hobby: professor, biólogo, sociólogo, economista, jornalista, funcionário público, desempregado, estudante, advogado, engenheiro, escritor, médico, arquitecto, empresário, informático

Perfil: inteligente, interessado, humano, perspicaz, humorista, jarra de flores (auto retrato), céptico, crítico, simpático

Ar: ar normal, ar blasé, ar cómico, ar giro, ar amável, ar lavadinho, ar gravatinha, ar camisolão, ar de estátua, ar activo

Em comum: escrever.

quarta-feira, outubro 29, 2003

Daedalus De passagem, no autocarro
Um amigo confidenciou-me que uma vez se apaixonou por uma rapariga que passava num autocarro, já não sei de que linha, nem ele. A figura efémera, esgarçada pelos vidros sujos de uma tarde lamacenta de Novembro, assomou-lhe súbita, rasgando-lhe a consciência e aspirando a sua alma para a ventura de um momento irrepetível. Naquele momento ele foi feliz como nunca foi ou voltaria a ser. Perguntei-lhe: como poderias não amar uma imagem que te prometeu a felicidade?
A Natureza do Mal SMS
O meu telemóvel inteligente escreve Dr em primeira opção e muda para tu só a pedido. Completamente despropositado, no suporte rei de conversas íntimas.

// posted by Sofia

terça-feira, outubro 28, 2003

A Memória inventada Paisagens de Nova Iorque: uma vinheta

Há algum tempo que tenho vontade de escrever sobre o Riverside Park, um lugar que fez com que tivesse percebido a força do baseball neste país: são centenas de miúdos aos Sábados de manhã, equipados a rigor e com os pais a sonhar à boleia. É também o lugar de um encontro inesperado com o Cotton Club, que persiste.
(...)
Em suma, é uma paisagem meritória, digna de figurar em qualquer colecção de postais ilustrados desta cidade. Nunca pensei foi que a paisagem pudesse tomar conta de mim.
Há dois dias, quando me virei para Sul, a imaginação disparou. Começo pelo céu, de fazer milagres, com as nuvens a deixar passar o Sol apenas por umas abertas, criando a ilusão dos holofotes celestiais às quatro da tarde. Cá em baixo, um Hudson de prata irrequieta, e tudo o resto meio acinzentado e cheio de reflexos, a pedir filtro para luz polarizada. A língua da ilha estendia-se até ao fim da ténue neblina e os arranha-céus, à esquerda, perdiam-se de vista. Lembrei-me de uma vinheta qualquer, não sei se pelas cores ou pelas formas. O certo é que por momentos tive mesmo de travar pois daí a instantes estaria a pedalar pelos ares. Certas paisagens partilham com os aromas raros da infância a força mobilizadora irresistível, mas não nos transportam de volta ao passado; enviam-nos antes para lugares difícil de cartografar, perdidos no espaço e vagos no tempo.

sexta-feira, outubro 24, 2003

Mar Salgado 'FUMAR MATA': A recente rotulagem tabagística é pura e dura. Mas honesta, pecando por tardia. Sou contra certas proibições e cruzadas moralistas contra certos vícios mas sou totalmente a favor da verdade nua e crua. E a verdade é que o tabaco mata e causa uma série de sequelas nefastas nos seus consumidores. E é bom que estes saibam ou sejam relembrados que assim é.
Chá de Menta «Assim, um poema é ao mesmo tempo verdade e mentira, rigor e desmedida, contenção e efusão, carência e exorbitância, magia e pesadelo, razão e desrazão. É um sim e um não, e ainda um plácido talvez. É mito e desmito. Possui incontáveis sentidos. Artefato verbal, completo em si mesmo, vivendo e respirando o ritmo de sua integridade e concretitude, e ainda o de suas abstrações, graças a um feliz agenciamento de sons e signos, de palavras tornadas imagens e de imagens tornadas palavras, de rimas e contra-rimas, de métricas e contramétricas, o poema pode, contudo, ser recriado e até danificado por qualquer leitor, que lê nele o que deseja ler, e o reescreve mentalmente à sua vontade, como se fosse um ditoso suplente de criador ou um ajudante de mentiroso.

E esta operação do leitor há de ser, sempre, o sinal de eficiência e da serventia do poema, do poder que tem o poeta de converter a sua aventura pessoal numa dádiva pública. Testemunha indesejável ou conviva deslumbrado, falando pelos que não têm voz - seja a voz política do humilhado e ofendido que atravessa a rua ou a voz amorosa do homem ancorado numa mulher - e cantando em nome dos seres desprovidos de linguagem, o poeta jamais está sozinho. Ele não sabe distinguir o seu começo e o seu fim. Sua solidão é ocupada pelo rumor interminável do mundo. É um ser solitário e solidário; uma criatura colectiva. »


por Lêdo Ivo, "Os Melhores Poemas de Lêdo Ivo", Global Editora, 1983.
Ruminaçœs Digitais Nos tempos que correm, temos mais e-mails, e-business, e-money mas menos quem admite e-rrar

sLx

quinta-feira, outubro 23, 2003

aDeus Existirão barcos enquanto existirem estrelas.
DESEJO CASAR Em conversa com um amigo, entre whiskies e cigarros, falamos do seu casamento. Diz-me exactamente o que penso: 'O casamento é, hoje em dia, um dos últimos gestos românticos. E simultaneamente heróicos.'
Assim é, porque as últimas gerações descobriram que qualquer um de nós pode ser feliz com... enfim, fazendo as contas por baixo e para adiantar um número redondo, cerca de 10.000 pessoas. Escolher uma, uma só, assinar um papel, fazer uma festa, e ir para a cama a pensar que aquele corpo nos vai amenizar os invernos para sempre, é coisa digna de um Willliam Wallace.
Paguei a conta à pressa e, com William Lawson a mais no sangue, fui acelerando rápido para o próximo destino. É que ainda me faltam, hmm... cerca de 9.990 pessoas. Hic. LFB
O Blog dos Putos Actualização das pesquisas que provocaram vindas a este blog:

1. o puto paradoxo

Por favor não me procurem. Sou uma pessoa reservada.

(...)

3. putos (2x)

Cada vez mais um clássico

4. coisas para blog (2x)

Mas que coisas?! Que raio de busca é essa? Será que há um Aki ou um Habitat para blogs?

5. cabaret da coxa

Por acaso até gosto.

6. perfeito anormal

Não falo de mim mesmo.

7. blogspot portugal ensino superior propinas

Cheira-me a jornalista a tentar escrever um artigo...
do lado de cá É doloroso aceitar o facto de que quando o despertador toca não é engano. O sol que já espreita pelas frinchas do estore não nos deixa fugir - fazemos parte de um novo dia.
[Nisto, a nibs é certeira: 'Os dias podem estar mais pequenos, mas as noites não estão maiores.']
flor de obsessão SILÊNCIOS: Quem tem um blog individual como este, feito do tempo possível, escreve quando quer e sobre o que quer. Eu não tenho escrito nada sobre Paulo Pedroso, as escutas telefónicas e a pretensa crise do PS. Percebo a importância destes assuntos e a sua presença esgotante em jornais e televisões, mas não creio que se possa dizer algo válido no meio de toda esta névoa mediática, deste precipitado de factos confusos e inclassificáveis. O excesso de barulho não é bom para pensar. Devemos esperar que os factos assentem. O que faz de um escândalo um escândalo, é uma atitude verborreica e incendiária, cheia de ruído e acusações. Não é a minha. Prefiro estar calado e assistir. O escândalo Pedroso tem sido um escândalo de vítimas. Todos se queixam. Ninguém assume o seu papel. Ninguém se coloca à altura. Estamos à mercê dos pequenos. Veremos a seu tempo que os pequenos nunca são dignos de si.

quarta-feira, outubro 22, 2003

Em Busca da Limpida Medida É só isto

São 6:05 da manhã...e estou estupidamente feliz.


posted by Puto Paradoxo 6:06 AM

terça-feira, outubro 21, 2003

ABRUPTO RECOMENDAÇÕES DE S. BERNARDO

«Ainda que conhecesses todos os mistérios, toda a vastidão da terra, toda a altura do céu e a profundidade do mar, se te ignorasses a ti mesmo, serias como aquele que constrói sem alicerces e prepara não um edifício, mas uma ruína. Tudo o que construires a teu lado não será senão um monte de poeira que o vento dispersa. (...). O sábio será sábio em relação a si e será o primeiro a beber a água do seu poço.»
atacadores Abrir os olhos e a noite ainda a derreter na luz longe. Frio. Olhos a arder por ter de os abrir dos sonhos onde havia, lembro vagamente, um chão de casa inundado por água do banho, água a correr pelas escadas e rua de pedra; onde havia gritos de reprimenda e um raro caminho até uma gruta de gelado de nata e chocolate. Rio de olhos ainda a alternar na luz/negro/luz/cinza/luz... a alternar no riso/choro/riso. A filtrar imagens que não devia ter visto nesse sonho.
Depois é afastar cobertores, inspirar fundo, saltar para o chão e acreditar que vai fazer calor.
Os dias podem estar mais pequenos, mas as noites não estão maiores.

sábado, outubro 18, 2003

Guerra e Pas Na nossa Literatura nunca há um juiz, um polícia, um mecânico, um operador de telemarketing, um repositor de supermercado, uma contínua numa escola, um motorista de autocarro, um segurança. Os remendos do dia-a-dia pura e simplesmente não têm sítio.

O idealismo das personagens da nossa ficção é tão automatizado quanto postiço. Não acordam de manhã para levar as crianças à escola e fartam-se de falar com elas mesmas, como se a vida fosse este diálogo perpétuo (há excepções brilhantes, como é último de I. Pedrosa). É muito mais que isso.

A falta de uma Literatura nossa sobre nós, rouba-nos muito do chão que precisaríamos e como Lobo Antunes exige todo o ser e o tempo, é altura de, algures no meio, deitarmos mãos à obra. Uns a escrever, outros a criticar, outros a desafiar, outros a publicar. Para que muitos possam ler e comprar.

Uns já começaram, diga-se. Moçambique de FJV e Equador de MST são dois livros onde, além da eventual intenção programática dos autores, há personagens que são como nós.
(o vento lá fora): Os blogs vistos :P de fora JPP bloga como toda a gente: fala de si, das suas leituras, dos seus gostos musicais, das suas viagens. Em suma: partilha. A partilha de conhecimento, mais que a de informação, é o coração dos blogs. O resto é presunção.

(...)

Repito, os blogs são na essência a forma de publicação pessoal. Ligam as pessoas. A elas próprias (o meu blog é a minha memória, cada vez mais a minha agenda e até o meu ponto de encontro com amigos, conhecidos e leitores). Umas às outras (unimo-mos em círculos de interesses, lemo-nos avidamente, curiosos pela partilha de emoções, de livros, de poemas, de ideias, de imagens, de descobertas). Ao mundo (graças ao hipertexto viajamos pela novidade à velocidade da luz).

Centremo-nos neste último ponto. A ligação ao mundo, antigamente feita quase em exclusivo através de mediadores (os media....) cuja profissão consistia em descobrir as novidades para no-las servirem. Aí sim, há alguma libertação das massas relativamente aos grupos editoriais. Confesso que a vejo com alegria, à libertação... Hoje não preciso esperar por sábado para saber o que aconteceu -- saber, meditar, contextualizar, interligar -- nesta e naquela área científica, política, social.

(...)

Pelo contrário, os blogs têm memória. Enquanto o papel de jornal vai forrar caixotes, servir de cama aos sem-abrigo e embrulhar vidros antes de ser reciclado, na blogosfera as palavras ficam registadas. Há arquivo. Há memória. Há a cola do hipertexto a lembrar-nos disto e daquilo.

(...)

Onde estes passam os blogs ficam. Infinitamente mais acessíveis a quem deles precisa do que os arquivos dos jornais, fechados à sociedade e de consulta paga.

Os blogs estão mais perto dos livros que dos jornais. Essa é que é essa!

(...)

Um diário é um diário, ponto final. Há diários que vale a pena ler, outros nem tanto. Onde está a novidade? Na liberdade de manter um diário multiusos, praticamente gratuito e acessível quase de borla a quem o quiser ler. No gozo de exercitar os dedos e desenferrujar os neurónios pesquisando a novidade, desenterrando o esquecido, expondo o ridículo, discorrendo sobre o acessório, aprofundando o fundamental, tudo isso em partilha com o outro, os outros, que não são sombras fugazes na pantalha nem manchas coloridas em papel de jogar fora, são pessoas que comentam, criticam, acrescentam ou subtraem. E desse gozo que se alimentam os bloggers. Um alimento antes reservado a muito, mas mesmo muito poucos.

sexta-feira, outubro 17, 2003

flor de obsessão Ivan Lessa escreve aqui sobre Portugal e diz estas duas verdades irrefutáveis:

O futebol português, eu prefiro não mencionar. Um país com um time chamado Leixões merece a ração diária de telenovelas brasileiras.

Ler sobre as atualidades políticas é formidável, porque não se entende nada do que aconteceu, está acontecendo ou pode acontecer.


Nada como ver de fora.

quinta-feira, outubro 16, 2003

Ponto & Vírgula As minhas virilhas.

Nunca fui especialmente ligado à política. Aqui há tempos percebi que qualquer adulto que se preze tem que ter uma postura política. Bem vistas as coisas, tudo na vida se resume a uma escolha primordial: esquerda ou direita. Ainda antes de saber chamar as coisas pelos nomes, sabia que preferia o gelado da esquerda, em vez do que estava mais à direita na montra. Mais tarde aprendi que era a mão esquerda que empunhava o garfo e não a sua congénere do lado oposto, como é mais comum. Há uns anos percebi que todos os valores em que acreditava eram ou de esquerda ou de direita.

Continuo apartidário (como sempre fui), muito pouco político (no sentido concreto do termo), mas a verdade é que quando o alfaiate me perguntou 'para que lado é que o meu amigo aparta?', a resposta tornou-se clara.
microcosmos Gosto muito e sinceramente tenho inveja do Calvin. Tenho inveja de tudo o que faz, de tudo o que vive, de tudo o que consegue imaginar. Invejo-o pela amizade que mantém com o Hobbes, é sincera. Invejo-o porque ainda acha que o pai Natal existe. Invejo-o porque come coisas muito engraçadas, porque faz bonecos de neve fantásticos, porque consegue fazer coisas muito imaginativas, embora infrutíferas, para obter o que quer. Mas invejo-o mais pelo facto de que vai ter sempre 6 anos.
Ele consegue divertir-me e pôr-me bem disposto como ninguém. Compreende o mundo de uma forma muito própria e muito perspicaz, tudo o que diz é exactamente o que esperamos que o Calvin diga. Com o Hobbes está completo e consegue retirar da vida e das situações as coisas mais fantásticas que eu alguma vez vi. Apesar de todo o seu 'aparato', a sua inocência manifesta-se muitas vezes e de uma forma enternecedora, afinal é apenas um miúdo.

quarta-feira, outubro 15, 2003

do lado de cá Todos os dias, quando o sol já deixou há muito os últimos raios, o casaco atirado para cima da cadeira, as chaves esquecidas em cima da secretária e o corpo cansado rendido nas almofadas do sofá não nos mentem - somos chão que já deu uvas.
O Incontornável
O genial, (ou idiota) é o facto de se conseguir seleccionar uma ideia entre várias, como se escolhessemos qual o figo a apanhar naquelas suculentas figueiras algarvias e digeri-lo saborosamente. Todos têm ideias geniais, mas poucos conseguem transferi-las para algo de concreto seja palavra, objecto, acção. Quantas ideias perdidas por falta de tempo de espaço já deixamos cair no esquecimento. Ocasionalmente temos ideias fantásticas mas porque não podemos apontá-las ou pensá-las visceralmente até se formarem feto estas nunca conhecem o dia do seu parto. São como nado-morto, que só viu a vida de relance, num glimpse(que por acaso em Inglês tem os dois sentidos; ideia remota e vislumbre).
Outro, eu Seixos Outra modalidade de regresso ao passado: a histeria nostálgica em torno de um grupo de dinossauros do rock. Os Rolling Stones tiveram o seu tempo há muito tempo. Não serei eu a criticar quem foi vê-los a Coimbra. Visitar um museu é sempre um acto de cultura.

terça-feira, outubro 14, 2003

Retorica e Persuasao Mais do que tribuno ou orador, Pacheco Pereira parece-me um dialéctico, um argumentador nato. Preferirá sempre, por isso, aquele diálogo animado em que as próprias perguntas do interlocutor lhe servem de guião, motivam e iluminam o seu responder. Refiro-me, naturalmente, ao diálogo real e não àquele que é (bem intencionadamente) simulado pela Jornalista de serviço.
Azul cobalto. Não desisti de voltar a ler a Ana. Ia ao Modus todos os dias, na espera incerta do regresso. Não fechou portas, creio antes que abriu janelas.

É bom tê-la de volta, reencontrar a lucidez, a delicadeza e a sensibilidade que sempre nos oferece seja ou não no registo intimista.

E se, como dizia Sartre no seu mundo desencantado, 'o inferno somos nós', valha-nos a coragem de renascer, apesar e para além do inferno dos outros.

sábado, outubro 11, 2003

Modus Vivendi As contradições que a vida encerra presenteiam-nos constantemente com facas de dois gumes: a liberdade pode ser solidão, a independência pode ser dor, a coragem pode ser perda de doçura. E vice-versa.

sexta-feira, outubro 10, 2003

little black spot little black spot é um nome que cresce em significância: a blogosfera amplia a noção da minha pequenez. a cada passo me torno minúscula, encolhida, insuficiente. a consciência da minha ignorância arrasa-me. entretanto, poderá acontecer que tão pequenina me faça que me torne invisível - se não para os outros, talvez para mim.

quinta-feira, outubro 09, 2003

Ruminações Digitais Pontos de vista

As palavras lidas escondem o tempo que as separou a escrita.
Destination_myself Que capacidade é esta de um blog nos dar assim tanta certeza da nossa existência? Parece que corria contra o tempo... para nascer! Como se o espaço fosse ficar saturado e não restasse um vazio para mim. Agora já existe.. e é meu, só meu! Falo comigo como nunca falei ao espelho.
Nunca tive muita paciência para diários... nos diários era eu. Aqui sou eu e mais alguma coisa... essa coisa que leio, escrevo, a quem respondo, com quem converso.
Em Busca da Limpida Medida Lindíssimas nuvens sobre o céu de Lisboa

Estão a desfilar num cortejo cheio de silêncio e majestade, com a solenidade do Outubro começado e a promessa de tempos magníficos
Aviz O mundo ainda tem coisas perfeitas para revelar.
Nao Esperem Nada De Mim Conheci a minha mulher numa marcha de caloiros. Havíamos acabado de entrar na faculdade, eu era tímido e ela extrovertida, julgo que ambos tínhamos medo -- e andámos quilómetros atados por um cordel, entre a Junqueira e Belém, a gritar insultos aos caloiros da Universidade Lusíada: 'Não entraram! Não entraram!' Só doze meses mais tarde a convidei para dividir um programa de rádio comigo, só catorze meses mais tarde olhei para ela com olhos de olhar e só dezasseis meses mais tarde lhe dei o primeiro beijo -- deu-mo ela a mim.
Lembro-me disto sempre que começa um novo ano e os caloiros desfilam esborratados pelas ruas. Eu e a Estela estamos casados há três anos, vivemos juntos há cinco, namoramos há dez. E, no entanto, estive atado a ela durante uma tarde inteira, uma tarde de intensa humilhação, de intensa solidariedade entre os humilhados, e depois esqueci-me disso durante um ano. Por isso, acredito no acaso e nas coincidências. Nos acasos felizes e nas coincidências inesquecíveis.
A Sombra Para nós tenho algumas, ainda. Para os que escrevem, sobretudo. Para os que o fazem no mesmo registo do Fernando Cameira, em especial. Para os que sabem que, um dia, as suas palavras escritas vogarão perdidas por este espaço, esperando uma leitura improvável... Impossível. E escrevem.
E escrevem...
blog do veneno eficaz Nada a provar nada a negar. Pensar. Pode ser interessante ler mas muito também o experimentar. Pensar sem medo e reflectir sobre esses pensamentos, construir teses sem vergonha do que os outros pensem. Pode ser que se abram novas portas e outros mundos assomem…